Histórico

A implantação do curso superior em Geografia no âmbito da UFSC tem sua gênese junto à Faculdade Catarinense de Filosofia que, a partir da década de 1950, começou a formar os primeiros licenciados sob as mesmas estratégias que diplomava profissionais habilitados em História, Letras e Filosofia.

A consolidação do projeto catarinense de criação de uma Universidade, a partir da década de 1960, pela criação da UFSC, permitiu um novo redimensionamento na vida acadêmica regional, cujos reflexos gradualmente começaram a se manifestar em diversas áreas, de repercussões em vários setores sociais, educacionais, artísticos e tecnológicos em nível estadual e até nacional.

O ideário vislumbrado pelo Prof. Henrique da Silva Fontes e seus colaboradores, na viabilização da UFSC, foi se consolidando na expansão que cada carreira universitária empreendia, ultrapassando barreiras e ajustando objetivos pedagógicos e seus desafios na formação em nível superior.

Nesse contexto surge o Departamento de Geociências, acumulando experiências no ensino de graduação passou, a partir de 1972, a promover estratégias em atividades de pós-graduação, com a implementação de cursos em nível lato sensu, através das primeiras turmas de “Especialização em Geografia”. Com esta proposta de formação continuada, o Departamento de Geociências na UFSC passava a atender não apenas quadros voltados para o campo do ensino e/ou pesquisa universitária, mas, também, demandas de profissionais de órgãos e empresas governamentais, como o Gabinete de Planejamento e Coordenação Geral (GAPLAN) do Estado de Santa Catarina, Fundação do Meio Ambiente (FATMA), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), Eletrosul – Centrais Elétricas S.A., Prefeituras Municipais e suas Secretarias, entre outros, interessados nas discussões da Ciência Geográfica e suas relações com áreas afins.

A regularidade na oferta de cursos de especialização foi imprescindível para definições de modalidades que se constituíram como temáticas consagradas, no modelo de ensino de pós-graduação em Geografia na UFSC que, paulatinamente, vai imprimindo uma marca sintonizada com os propósitos da dinâmica teórico-metodológica e as novas tendências do pensamento geográfico brasileiro. Em 1977 inicia-se a modalidade de especialização em Desenvolvimento Regional e Urbano (DRU) e posteriormente, em 1979, a especialização em Utilização e Conservação de Recursos Naturais (UCRN). Essas experiências se constituíram em referências nacionais e base norteadora do projeto de mestrado. Até hoje essas áreas são as mais fomentadas e ainda permanecem na forma das duas únicas “áreas de concentração” do Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGG) da UFSC.

O curso de Mestrado em Geografia, com duas opções em DRU e UCRN, foi aprovado em 1984 pelo Conselho de Ensino e Pesquisa da UFSC (Res. 009/CEPE/84) e implantado em 1985 com a seleção da primeira turma. Neste momento foi considerado “Curso Recomendado” pelo GTC-CAPES/CNPq. Desde o período de especialização até a implantação do mestrado o Programa de Pós-Graduação se consolidou como tendo uma visão interdisciplinar. Fato que, apenas na década de 1990, passou a se disseminar por todas as áreas do conhecimento, inclusive às tecnológicas. Foi na época um curso de pós-graduação pioneiro na região Sul do Brasil, contando, além do apoio dos professores locais habilitados e qualificados, também com a colaboração periódica de grandes nomes nacionais da Geografia e de outras áreas do conhecimento.

Grandes nomes da Geografia Brasileira e do exterior contribuíram com a evolução do PPGG e, além disso, contribuíram com a formação de muitos discentes que hoje são docentes em diversas instituições de ensino superior do Brasil. Nomes como Milton Santos, Carlos Augusto Figueiredo Monteiro, Aziz Nacib Ab’Saber, Roberto Lobato Corrêa, Ignácio de Mourão Rangel, Maurício de Almeida Abreu, João José Bigarella, Olga Cruz, Manoel Corrêa de Andrade, Maria Adélia Aparecida de Souza, Carlos Walter Porto Gonçalves, Dirce Maria Antunes Suertegaray, Antônio Carlos Robert de Moraes, Berta Koiffmann Becker, Ariovaldo Umbelino de Oliveira, Brian Jonh Godfrey (da Vassar College - New York, que esteve no PPGG como bolsista da Fundação Fulbright, 1988), Maria Nazaré Roca e Zoran Roca (hoje da Universidade Nova de Lisboa, mas, na ocasião, como Professores da Universidade de Zagreb – antiga Iugoslávia), Michael Storpper (da Universidade de Califórnia, Berkely), Raimund Pebelle (França, convênio CAPES/COFCUB), entre tantos outros.

A presença do Programa de Pós-Graduação em Geografia veio redimensionar as atividades no ensino de graduação da UFSC, assim como inúmeras atividades de pesquisa e extensão que vêm sendo promovidas, inclusive junto a outras instituições catarinenses. Muitos dos resultados concretos dessas experiências passaram a ser difundidas com o surgimento da Revista GEOSUL, que desde 1986 veicula informações locais, nacionais e até internacionais, estando conceituada atualmente entre os periódicos regulares da geografia brasileira, em nível “A” do padrão Qualis/CAPES.

Vale lembrar ainda que, em vários momentos dos primeiros anos de sua existência, o programa de mestrado contou com intensa participação dos alunos na consolidação da proposta da pós-graduação, através das experiências desenvolvidas pela APGeo – Associação dos Alunos de Pós-Graduação em Geografia da UFSC. Além das preocupações pedagógicas com o curso e a integração acadêmico-cultural dos envolvidos, membros daquela associação também puderam contribuir com o processo de reativação da APG – Associação dos Pós-Graduandos da UFSC, a partir de 1997.

Assim, gradativamente, o Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFSC foi se constituindo a se consolidando, e entre as propostas universitárias brasileiras, foi atraindo interessados, não apenas graduandos em Geografia, mas também de áreas afins. A proposta do PPGG, em permanente dinamização e atualização, através de seu projeto pedagógico, tem evoluído e conquistado relevância e inserções sócio-educacionais/profissionais. Assim, como aconteceu aos vários programas de pós-graduações brasileiras, pela Portaria do MEC nº 694 de 13/06/1995, o Programa de Mestrado em Geografia da UFSC foi recredenciado e reconhecido nacionalmente.

Em 1998 o Programa conseguiu autorização para, em 1999, implantar o Curso de Doutorado (Res. N° 60/CPG/98 de 27/08/1998). As primeiras teses foram defendidas em 2003. Em agosto de 2009, numa cerimônia de abertura das comemorações dos 25 anos do Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGG) a Pró-reitora de Pós Graduação saudou o Programa pela formação de 331 mestres e 51 doutores. A partir do final dos anos de 1990, com o apoio do PPGG, passaram a ser publicados os Cadernos Geográficos, os Livros Geográficos e a Revista Discente eletrônica Expressões Geográficas, além do continuo apoio a reconhecida Revista Geosul (Qualis A2). Recentemente o Programa criou a “Série Livros do PPGG da UFSC” para publicação dos produtos dos docentes e a “Série Teses e Dissertações do PPGG da UFSC” para publicação das teses e dissertações dos egressos, principalmente dos que são alvos de premiações nacionais e internacionais.

O Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFSC comemorou entre 2009 e 2010, 25 Anos de Criação (04/10/2009) e Instalação (março/2010). Como marco desse importante acontecimento na nossa história acadêmica e como parte do lançamento das comemorações deste “Jubileu de Prata” promovemos, em 07 de agosto de 2009, um “Tributo Acadêmico” em homenagem ao Centenário de Victor Antônio Peluso Júnior, considerado o mais importante geógrafo catarinense do século XX e figura de notável passagem pela União Geográfica Internacional (UGI) e Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB). Vale destacar que, naquela ocasião, além das presenças de autoridades e familiares, contamos com a presença de Mestres como Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro, que veio dar seu testemunho não apenas de convivência com o Mestre Victor Peluso, quando da sua passagem inicial por Santa Catarina, mas, também, como um dos professores que colaborou na criação do PPGG.

É importante reafirmar, também, o papel que o PPGG tem prestado, através de grandes e relevantes contribuições não apenas à Geografia Brasileira, em inúmeras atividades e ou inserções que vem realizando, assim como em concretas presenças na vida cotidiana de comunidades catarinenses, como em episódios de catástrofes no Vale do Itajaí (como nos anos de 1980 e 1990), nas recorrentes enchentes de 2008/2009. Nesse contexto, vários docentes ocuparam espaço na mídia local e nacional para emprestar esclarecimentos, concomitante ao trabalho de orientação técnica que realizaram naquela ocasião e que vem ganhando desdobramentos e consolidação da presença da UFSC na sociedade brasileira. Fatos que colocam os docentes e também os discentes do PPGG como atores importantes nos comitês da Defesa Civil e das Bacias Hidrográficas de Santa Catarina e que, por conseguinte, foi capaz de nuclear um Mestrado Profissionalizante em Desastres Naturais (uma solicitação do Ministério da Integração Nacional e da CAPES pelo reconhecido papel dos docentes do PPGG da UFSC nessa área). Outro ponto de destaque é a forte presença dos docentes do PPGG da UFSC na política local e estadual e no planejamento urbano e regional (cargos públicos, consultorias, projetos de pesquisa, palestras, estudos de viabilidade técnica e financeira, entre outros). Isso indica a forte inserção social dos docentes do PPGG e mostra o pujante traço do programa nas questões locais e regionais.

Destaca-se também que, atualmente, o PPGG tem entre professores do seu quadro permanente, vários ex-alunos, assim como inserções de egressos entre professores de várias universidades em todo o país, não apenas na região Sul e Sudeste, mas, inclusive, nas Regiões Norte e Nordeste brasileiras. Atualmente também foi observado a atuação de egressos fora do país, principalmente em universidades e empresas da América Latina e Europa. Entre os egressos há profissionais atuando como técnicos em diversas instituições ou empresas públicas municipais, estaduais e federais, ingressos via concursos. A partir de 2009, por exemplo, teve aprovados doutorandos e ex-alunos, nos concursos públicos para a recém criada Universidade da Fronteira Sul, que atenderá demandas das regiões oeste do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, como também nos diversos institutos federais espalhados pelo território brasileiro. Outro ponto de destaque é a formação e aperfeiçoamento de docentes para as redes públicas do ensino fundamental e médio. Há vários mestrandos, doutorandos e egressos atuando como professores e diretores de escolas nas redes de ensino de Santa Catarina e de outras regiões do país, como também há diversos projetos e pesquisa na área de educação e inclusão social (como o Laboratório de Cartografia Tátil e Escolar – LABTATE).

A trajetória do PPGG não está ligada apenas à formação de Mestre e Doutores, mas, também, a quantidade e qualidade de produtos acadêmicos que o PPGG oferece à comunidade técnico-científica, aos diversos níveis de formação geográfica (do ensino fundamental à pós-graduação) e às inserções em segmentos comunitários tanto catarinenses, como de outras regiões brasileiras e até em escala internacional. Destaca-se países das Américas, Oceania, Europa, Ásia e África (Colômbia, Argentina, Chile, México, Costa Rica, Peru, Austrália, Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, Portugal, Espanha, França, China) e estamos ampliando a presença em países lusófonos da África (Cabo Verde e Moçambique – via acordos MCT/CNPq-Ministério das Relações Exteriores). Assim, dissertações, teses, pesquisas, livros e revistas, eventos diversos (nacionais e ou internacionais, como ENANPEGE e ENANPUR) e tantas outras atividades passaram a ser frequentes e que marcam a atuação do PPGG da UFSC.

Muitas atividades, desencadeadas ao longo das últimas décadas, com o apoio da Pós-Graduação em Geografia da UFSC, são eventos marcantes, como a realização das edições anuais da SEMAGeo (Semana de Geografia que terá sua XXXV edição consecutiva em outubro de 2014), organização de eventos acadêmico-científico em nível nacional e/ou internacional (entre outros o ENG/AGB-2000) e neste particular destaca-se em 1993, a realização do IV Encontro Nacional de Pós-Graduação em Geografia, que entre as deliberações deste evento fez surgir a ANPEGE – Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia, cuja primeira presidência da entidade foi exercida pelo Prof. Milton Santos (1993/95). Recentemente sediou e organizou uma edição da ENANPEGE (Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Geografia) e da ENANPUR (Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional). Direta ou indiretamente o PPGG/UFSC vem emprestando suas experiências e adquirindo novas possibilidades de inserção em diferentes cenários.

Em 2015 o Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFSC comemorará 43 anos de existência, com a criação do primeiro curso de especialização, e 30 anos com a criação do Mestrado em Geografia. Um fato que revelará ainda mais a história do PPGG e sua atuação na comunidade catarinense e brasileira, todavia, agora com o foco voltado ainda mais para a atuação internacional.

Nos últimos anos o PPGG da UFSC vem realizando um grande esforço para melhor se adequar as exigências dos órgãos de fomento e as mudanças visualizadas no âmbito dos Programas de Pós-Graduação do Brasil. Entre essas mudanças destacam-se:

1) Uma forte reestruturação com foco na mudança de regimento dando mais agilidade e eficiência administrativa, deixando mais claras as regras que regem o PPGG e inviabilizando os casos omissos que geralmente apresentam-se em virtude da falta de atualização das regras e das constantes mudanças no ensino e na pesquisa no Brasil e exterior;

2) Aumento no nível de exigência para credenciamento e recredenciamento docente, diminuindo o número de professores e gerando maior equilíbrio entre a produção dos mesmos, ou seja, entre os mais produtivos e os menos produtivo, além de incentivar uma maior produção acadêmica e transformações destas em produtos que possam ser contabilizados pelas avaliações da CAPES;

3) Reformulação do processo seletivo, aumentando as exigências para o ingresso de alunos, número de vagas por professores e privilegiando projetos e propostas de tese e dissertações articuladas aos projetos dos docentes, as linhas de pesquisa e as duas áreas de concentração do Programa e, podendo, portanto, estabelecer maior integração entre as pesquisas docentes e discentes, inclusive, para o fortalecimento de redes de pesquisas nacionais e internacionais das quais os docentes e discentes participam;

4) Readequação das linhas de pesquisa e das áreas de concentração e uma maior articulação das mesmas com os projetos coordenados pelos docentes ou que os mesmos participam. Houve diminuição e mudança na definição das linhas de pesquisa, além da exigência que os projetos articulem-se as linhas e que os docentes trabalhem nas mesmas de forma mais articulada;

5) Maior exigência quanto à qualidade das teses e dissertações através da ampliação de bancas mais exógenas e ecléticas e diminuição do tempo de defesa, diminuição das desistências e ampliação das bolsas, em especial, de doutorado, onde se verificou um aumento no número de ingressantes. Atualmente o PPGG da UFSC possui 95 doutorandos e 68 mestrandos e formou 102 doutores e 456 mestres até julho de 2014;

6) Ampliação da inserção internacional através de intercâmbios de alunos (doutorado sanduíche no exterior – PDSE, mobilidade estudantil no âmbito da AUGM) e docentes (professor visitante internacional e outras modalidades), privilegiando o trabalho através de projetos em redes internacionais com diversos países da América Latina (Chile, Argentina, Colômbia, entre outros), da Europa (Portugal, Espanha, França, Alemanha), da América do Norte (Estados unidos e Canadá), da Oceania (Austrália), da Ásia (China) e da África (Angola e Moçambique);

7) Ampliação considerável dos doutorados sanduíches no exterior através do Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior (PDSE). Modalidade que cresceu substancialmente a partir de 2013 e que tem gerado maior inserção internacional do PPGG e também cotutelas (dupla titularidade);

8) Geração de doutorandos em cotutela. Há um processo em finalização e três novos em processo com universidades da Espanha, do Canadá e da França;

9) Implementação de novas bolsas, em decorrência do aproveitamento das bolsas de Demanda Social da CAPES geradas pelo PDSE;

10) Maior exigência quanto à produção qualificada dos docentes e, em especial, que envolva a atuação internacional;

11) Valorização do grande potencial do PPGG da UFSC quanto à inserção social das suas atividades na política local e regional, na formação docente, nos comitês de Bacias e Defesa Civil, nos órgãos públicos do Estado de Santa Catarina e do governo Federal, entre outros. Tais atuações dos docentes permitiram a criação de dois novos cursos no Departamento de Geociências (Geologia e Oceanografia) e foram capazes de nuclear dois outros Programas de Pós-Graduação: Desastres Naturais e Oceanografia;

12) Ampliação da inserção internacional através de publicações internacionais em revistas e livros qualificados, de projetos de pesquisa (coordenados por professores do Programa ou do Exterior), do PDSE, de convênios, de visitas técnicas, de mobilidade docente e discente e no recebimento de professores visitantes de outros países;

13) Ampliação do quadro de pós-doutorandos no Programa, vinculados ao Plano Nacional de Pós-Doutorado (PNPD), pós-doutorando voluntário ou com bolsas de projetos de pesquisa dos docentes;

14) O incentivo para os docentes realizarem pós-doutorado no exterior. Fato que apresentou diversos resultados e que mostra um quadro quase completo de professores credenciados no PPGG/UFSC com pós-doutorado no exterior;

15) Incentivo à vinda de professor visitante nacional e internacional através de editais dos órgãos de fomento e com auxílio de programas específicos da própria Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Nesse sentido há dois professores visitantes que chegaram em 2013, um nacional e outro internacional.

A história do programa de Pós-Graduação em Geografia da UFSC é uma história de sucesso e de constantes mudanças. Ela revela que a atuação do PPGG é forte em vários aspectos, todavia, seu maior legado, que permanece desde sua fundação, está nas comunidades locais, no planejamento estatal e na política local. Por mais que a produção científica, baseada nos padrões internacionais, esteja aumentando, isso não se realiza através da diminuição da inserção social do PPGG. Inserção essa que está presente desde sua origem.

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